Dominância em cães
Você já ouviu falar que os cães vivem em uma hierarquia de dominância, onde existe um líder alfa que manda em todos os outros membros da matilha? E que você precisa ser esse líder para que o seu cão te respeite e obedeça? Essa é uma teoria muito difundida, mas também muito questionada por estudiosos do comportamento canino. Será que ela é verdadeira ou apenas um mito? E quais são as consequências de acreditar nela para a convivência com o seu pet? Neste artigo, eu, João Cachorro, vou te explicar tudo sobre esse assunto. Vamos lá?
Índice
O que é a teoria da dominância em cães?
A teoria da dominância em cães surgiu em 1970, a partir de um estudo realizado pelo biólogo David Mech, que observou o comportamento de lobos em cativeiro. Ele concluiu que os lobos disputavam os recursos disponíveis, como comida, água, abrigo e reprodução, por meio de brigas e agressividade. Ele também afirmou que os lobos mais fortes e dominantes eram os líderes da matilha, e que os mais fracos e submissos obedeciam aos seus comandos. Além disso, ele generalizou essa conclusão para os cães, alegando que eles também seguiam essa mesma estrutura hierárquica.
Essa teoria foi muito aceita e divulgada na época, e influenciou muitos adestradores e donos de cães a adotarem métodos baseados na dominância para educar e controlar os seus pets. Esses métodos consistiam em usar a força física, a intimidação, a punição e a restrição de recursos para mostrar ao cão quem era o líder e fazer com que ele se submetesse. Alguns exemplos desses métodos são:
- Comer antes do cão, para mostrar que você tem prioridade nos recursos.
- Não deixar o cão subir no sofá ou na cama, para mostrar que você tem o controle dos espaços.
- Não deixar o cão puxar a guia ou andar na frente, para mostrar que você define o caminho e o ritmo.
- Virar o cão de barriga para cima ou segurar o seu focinho, para mostrar que você tem o poder físico sobre ele.
- Ignorar o cão quando ele pede atenção, para mostrar que você decide quando interagir com ele.
Esses métodos podem parecer eficazes em um primeiro momento, mas eles podem trazer muitos problemas para o bem-estar do cão e para o seu relacionamento com ele. Vamos ver por quê.
Por que a teoria da dominância em cães é um mito?
A teoria da dominância em cães é um mito por vários motivos. Primeiro, porque ela se baseia em um estudo que foi feito com lobos em cativeiro, que não representam o comportamento natural dos lobos selvagens. Os lobos em cativeiro eram formados por indivíduos não relacionados, que foram forçados a viver juntos em um ambiente restrito e estressante, onde tinham que competir pelos recursos limitados. Isso gerou muitos conflitos e agressões entre eles, que não refletem a forma como os lobos se organizam na natureza.
Os lobos selvagens vivem em grupos familiares, onde existe uma cooperação e uma harmonia entre os membros. Eles não brigam pelo status de líder, mas sim pelo papel de reprodutor, que é determinado pela idade, pelo sexo e pela compatibilidade genética. Eles também não usam a violência para resolver os seus problemas, mas sim a comunicação e a negociação. Eles se respeitam e se protegem, e não se submetem uns aos outros.
Segundo, porque a teoria da dominância em cães ignora as diferenças entre os cães e os lobos. Os cães são descendentes dos lobos, mas eles passaram por um processo de domesticação que durou milhares de anos, e que modificou o seu comportamento, a sua aparência e a sua genética. Os cães se adaptaram para viver com os humanos, e desenvolveram habilidades sociais e cognitivas que os lobos não têm. Os cães também são mais diversificados e variados do que os lobos, tanto em termos de raça, de tamanho, de personalidade e de preferência.
Os cães não vivem em matilhas, mas sim em grupos sociais, que podem ser formados por outros cães, por humanos ou por outros animais. Eles não têm uma hierarquia fixa e rígida, mas sim uma dinâmica flexível e fluida, que depende do contexto, da situação e da relação entre os indivíduos. Eles não são motivados pela dominância, mas sim pelas suas necessidades, pelos seus interesses e pelos seus sentimentos. Eles não precisam de um líder alfa, mas sim de um amigo e de um parceiro.
Quais são as consequências de acreditar na teoria da dominância em cães?
Acreditar na teoria da dominância em cães pode trazer muitas consequências negativas para o seu relacionamento com o seu pet. Veja algumas delas:
- Você pode prejudicar a confiança e o vínculo que você tem com o seu cão, ao invés de fortalecê-los. Ao usar métodos baseados na dominância, você pode fazer com que o seu cão tenha medo de você, e não respeito. Você pode gerar insegurança, ansiedade e estresse no seu cão, e não tranquilidade e equilíbrio. Você pode criar um clima de tensão e conflito entre vocês, e não de cooperação e harmonia.
- Você pode comprometer a saúde física e mental do seu cão, ao invés de preservá-las. Ao usar métodos baseados na dominância, você pode causar dor, desconforto e lesões no seu cão, e não bem-estar e prazer. Você pode provocar comportamentos indesejados, como agressividade, medo, ansiedade, depressão, fobias e compulsões, e não comportamentos adequados, como calma, confiança, alegria e sociabilidade.
- Você pode limitar o potencial e a personalidade do seu cão, ao invés de estimulá-los. Ao usar métodos baseados na dominância, você pode inibir a curiosidade, a criatividade e a inteligência do seu cão, e não incentivá-las. Você pode reprimir a expressão, a comunicação e a individualidade do seu cão, e não respeitá-las. Você pode impedir o desenvolvimento, a aprendizagem e a adaptação do seu cão, e não facilitá-los.
Como educar e conviver com o seu cão sem usar a teoria da dominância?
Se a teoria da dominância em cães é um mito, então como você deve educar e conviver com o seu cão? A resposta é simples: usando métodos baseados na ciência, na ética e no amor. Esses métodos são:
- O reforço positivo, que consiste em recompensar os comportamentos que você quer que o seu cão repita, e ignorar os comportamentos que você quer que o seu cão evite. Assim, você estimula o seu cão a aprender e a se comportar de forma adequada, sem usar a força, a intimidação ou a punição. Você pode usar elogios, carinhos, brincadeiras, petiscos ou qualquer coisa que o seu cão goste como recompensa.
- A socialização, que consiste em expor o seu cão a diferentes pessoas, animais, lugares, objetos, sons e situações, de forma gradual, segura e positiva. Assim, você ajuda o seu cão a se adaptar ao mundo, a se sentir confiante e a se relacionar bem com os outros, sem usar o isolamento, o medo ou a agressão. Você pode levar o seu cão para passear, brincar, interagir e explorar o ambiente, sempre respeitando o seu ritmo e o seu limite.
- A comunicação, que consiste em entender e expressar as suas intenções, as suas emoções e as suas necessidades, de forma clara, coerente e respeitosa. Assim, você melhora o entendimento e a sintonia entre você e o seu cão, sem usar a confusão, a contradição ou a violência. Você pode observar a linguagem corporal, os sons e os sinais que o seu cão usa para se comunicar, e usar a sua voz, o seu olhar e os seus gestos para se comunicar com ele.
Perguntas frequentes
O que fazer se o meu cão é dominante com outros cães?
O que fazer se o meu cão é dominante comigo ou com outros membros da família?
Como posso saber se o meu cão é dominante ou submisso?
Conclusão
Usando esses métodos, você vai conseguir educar e conviver com o seu cão de forma saudável, feliz e harmoniosa. Você vai construir uma relação de amizade, de parceria e de confiança com o seu cão, e não de dominância, de submissão e de medo. Você vai respeitar o seu cão como ele é, e não tentar mudá-lo como você quer. Você vai amar o seu cão como ele merece, e não machucá-lo como ele não precisa.
Espero que você tenha gostado deste artigo, e que ele tenha te ajudado a entender melhor a verdade por trás dos mitos da dominância em cães. Se você quiser saber mais sobre esse assunto, eu recomendo que você leia os seguintes artigos:
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Um abraço do seu amigo,
João Cachorro